Conteúdo organizado por Renato Cividini Matthiesen em 2023 do livro Internacionalização de empresas: teorias e aplicações, publicado em 2013 por Adriana Beatriz Madeira, José Augusto Giesbrecht Da Silveira, pela editora Saint Paul.
Introdução à internacionalização de empresas
Nos últimos 15 anos, a China mudou por nossa causa. Esperamos que, nos próximos 15 anos, o mundo mude por nossa causa. ” Jack Ma, citado em Clark (2019, p. 17)
A internacionalização de produtos e serviços tem grande importância no mercado global atual pois permite às empresas oferecerem seus negócios para países diversificados. Por exemplo, se um consumidor comprar um automóvel no Brasil, com raríssimas exceções, estará adquirindo um produto montado pela filial de uma empresa estrangeira, sediada no Japão, Estados Unidos ou algum país Europeu. Se comprar um outro produto, como um smartphone, por exemplo, a realidade é a mesma. Ou mesmo se adquirir um curso superior, a sua base de conhecimento poderá ter influência de pesquisadores e professores que produzem ciência e conteúdo para sua universidade que estão espalhados por todo o planeta.
A internacionalização das empresas deste novo século XXI é uma realidade comum nos mercados de produtos e serviços. Seja em tempos de calmaria sociopolítica, seja em momentos turbulentos de disrupções tecnológicas ou mudanças econômicas, a composição de produtos e de negócios sofrem forte influência do mercado internacional.
Ainda que tenhamos tempos de crise em um determinado mercado, há possibilidade de levar os produtos e serviços para outro mercado, como estratégia de sustentabilidade. Outro exemplo é fazer uso de períodos de vendas de determinados produtos em locais com estações climáticas diferentes. Produtos produzidos para o verão no Brasil, por exemplo, podem ser vendidos no mercado interno nesta época e em outros países no período verão enquanto o país local passa pelo inverno.
A dimensão de competitividade é uma das principais razões que leva um país a buscar um mercado internacional. Seja pela qualidade de produtos, preço ou pelas condições de pagamento, a oferta de produtos para um ambiente comercial globalizado oportuniza à diversas empresas a oferta de produtos para compradores que estão distribuídos globalmente.
“As forças da globalização de mercados dependem da conduta dos clientes, da estrutura dos canais de distribuição e da natureza do marketing da indústria”, relata Ludovico (2011, p. 10). As forças relacionadas a custos dependem da economia do negócio ao qual a empresa está se propondo a desenvolver; as forças governamentais dependem da legislação imposta pelos governos das nações onde se pretende atuar e as formas relacionadas aos impulsores competitivos dependem sobretudo das ações das empresas concorrentes do negócio.
Estes impulsionadores que exercem pressão mais exacerbada sobre determinados setores industriais, levam a operação da organização empresarial a oferecer estratégias que contemplem diversas situações, variando entre estratégias multilocais e estratégias globais de competição no mercado internacional. Estas estratégias apoiam a organização empresarial em distintas bases e situações relacionadas a participação no mercado, produtos e serviços, atividades que agregam valor, marketing e medidas competitivas.
De acordo com Madeira e Silveira (2013, p. 115), “a internacionalização de uma empresa se refere a toda forma de atuação desta empresa no exterior”. A internacionalização faz parte de um bloco de estratégias gerenciais, com objetivo de aumentar o envolvimento de uma empresa em operações além-fronteiras geográficas. Ela é vista ainda como um processo por meio do qual a empresa opera fora de seu mercado de origem. Cavusgil (2010) nos ensina que os negócios internacionais afetam nossas experiências cotidianas, referem-se ao desempenho de atividades de comércio e investimento por empresas, através das fronteiras internacionais entre os diversos países no planeta. Neste cenário, as empresas buscam clientes estrangeiros e mantêm relacionamentos colaborativos com parceiros estrangeiros, permitindo que as nações possam trocar ativos físicos e intelectuais, como bens, serviços, capital, tecnologia, know-how e mão de obra.
“A economia mundial está presenciando um período de transformações radicais; em particular, houve uma dramática internacionalização (globalização) da atividade econômica nas últimas décadas com profundas consequências econômicas, políticas e sociais”. (Vasconcellos, 2017, p. 18)
A internacionalização de produtos e serviços tem grande importância no mercado global atual pois permite às empresas oferecerem seus negócios para países diversificados. Por exemplo, em tempos de crise em um determinado mercado, há possibilidade de levar os produtos e serviços para outro mercado.
O contexto de modelos organizacionais para as empresas internacionalizadas refere-se aos modelos organizacionais de empresas que atuam em outros países com diferentes configurações organizacionais. De acordo com Madeira e Silveira (2013, p. 15), “representam a estratégia de internacionalização que pode ser adotada por uma empresa”.
Neste contexto, uma empresa pode ser organizada como empresa internacional, empresa multinacional, empresa global ou ainda empresa transnacional. Essas nomenclaturas organizam a categoria das empresas internacionalizadas, mas ainda há outras diversas denominações para as empresas que se localizam em mercados internacionais, como organização multilocal e organização multidoméstica. Os critérios utilizados para determinar o desenho organizacional de uma empresa segundo Madeira e Silveira (2013) eram:
Esses critérios foram analisados por Madeira e Silveira (2013, foram citados por Perlmutter,1969), classificando as multinacionais em etnocêntricas, policêntricas e geocêntricas.
Multinacional etnocêntrica: empresa onde a identificação é o país de origem, onde a complexidade da organização está na matriz e a subsidiárias são simples; a autoridade e a tomada de decisão está na matriz; existe padronização de forma de atuação e desempenho definidas pela matriz; as recompensa, sanções e incentivos são grandes na matriz e pequenos nas subsidiárias e os pontos-chave na organização são ocupadas por indivíduos selecionados e desenvolvidos no país de origem da empresa.
Multinacional policêntrica: é a empresa cuja identificação é sempre a do país que recebe a empresa; a complexidade da organização é variada e independente; a autoridade e poder de decisão são relativamente baixos na matriz; a avaliação e o controle são definidos localmente; as recompensas, sanções e incentivos têm ampla variação, podendo ter pequenas ou grandes recompensas pelo desempenho das subsidiárias; a comunicação é pequena entre a matriz e as subsidiárias e o desenvolvimento e recrutamento de pessoas para os pontos-chave das unidades se dá localmente.
Multinacional geocêntrica: apresenta uma crescente e interdependente complexidade de organização, onde cada unidade é realmente uma empresa internacional, contudo amplamente alinha com os interesses nacionais; a autoridade e o poder de decisão são direcionados para a colaboração entre a matriz e as subsidiárias; a avaliação e o controle são regidos por padrões gerais para todos, e procurando atender as questões locais, os executivos da empresa são recompensado pelo desempenho local e também o da empresa como um todo; a comunicação flui em todos os sentidos dentro da multinacional, há participação dos principais gestores das subsidiárias no time gerencial da empresa, o desenvolvimento de pessoas se dá em qualquer local e com finalidade de identificar os potenciais para atuar também em qualquer posição e localização onde há operação na empresa.
Madeira e Silveira (2013) ainda nos ensinam que as empresas podem fazer uso de dois tipos de estratégias internacionais: uma denominada estratégia internacional no nível de negócio e a outra estratégia internacional no nível corporativo.
Estratégia internacional no nível de negócio: refere-se às estratégias genéricas como liderança em custos, diferenciação, liderança focada em custos, diferenciação focada na liderança e diferenciação integrada em custos.
Estratégia internacional no nível corporativo: refere-se à configuração que a empresa internacionalizada pode assumir em sua atuação.
Assista o vídeo: Internacionalização de empresas, disponibilizado pelo canal Catanho. Este vídeo apresenta informações sobre a busca para expandir as relações comerciais através da internacionalização.
"INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS"
Link: https://youtu.be/EaDRIVJiBWw. Acesso em: 13 dez. 2022.
Vejamos então os modelos organizacionais internacional, multinacional (sendo multidoméstica ou multilocal), global e transnacional.
Figura 1 – Modelos organizacionais para empresas internacionalizadas
Fonte: elaborado pelo autor
Explicando:
Internacional: a empresa mantém unidades em locais diferentes do mundo, expandindo as operações produtivas para outros mercados. Caracteriza-se pela atuação comercial internacional, atuando como vendedor (exportação) ou fornecedor (importação). Para estar neste contexto, precisa ter algum relacionamento com o estrangeiro, sendo motivada para operação internacional através de acesso a novos clientes, redução de custos, ganhos de escala, acesso a fontes de matéria prima. Este modelo é usado para explorar as competências essenciais da empresa. O controle no país de origem é centralizado na matriz, constituída por divisões onde se dá o controle da operação local e das operações internacionais. A organização internacional caracteriza-se pela transferência do know-how da matriz para as operações estrangeiras, não havendo autonomia dessas operações para tomada de decisão local, conforme definem Madeira e Silveira (2013).
Multinacional: a expressão do negócio em mercados estrangeiros é feita por meio da criação de unidades, e esta categoria pode ser subdividida em multidoméstica ou multilocal. A multinacional administra e controla unidades em dois ou mais países, possui investimento direto no país estrangeiros, não apenas como negócio de exportação. Caracteriza-se pela gestão ativa de seus ativos estrangeiros, adotando uma abordagem mais flexível em suas operações. Faz uso também de filiais nos países onde atua e proporciona certo grau de autonomia nas decisões locais. Cada unidade apresenta as funções totais necessárias para operação no local onde está instalada. Essas empresas focam na competição de cada país, pois acredita que os mercados são diferentes. A organização multinacional oferece a oportunidade de adequação de produtos às necessidades e preferências específicas de cada mercado onde atua. São permitidas economias de escala, podendo ser uma operação mais custosa. Este modelo resulta em maiores incertezas, pois deverá haver em cada mercado, uma estratégia diferente, ou seja, descentralização de decisões estratégicas operacionais que precisam ser bem gerenciadas.
Global: empresa desenhada para produzir e comercializar produtos padronizados em diferentes países por meio de suas subsidiárias ou filiais. Atua como se os diversos países fossem um único mercado, reflete Madeira e Silveira (2013). Existe a oportunidade de oferta de produtos padronizados nas situações onde existem clientes de países diferentes. Este tipo de empresa cria canais de distribuição global e regional a fim de atender os clientes globais. A estratégia global pode ser definida como a visão de que o mundo é a unidade de análise da empresa e não de cada país específico onde a empresa atua. A tomada de decisão e o controle são centralizados e as filiais têm pouca ou nenhuma autonomia para tomada de decisão e seguem padrões produtivos e administrativos determinados pela matriz. O objetivo deste modelo de atuação internacional é obter economias em escala, com o desafio de compartilhar os recursos, coordenar e conseguir a cooperação entre as unidades dos diversos países, tendo como resultado uma estrutura organizacional complexa que objetiva a construção da vantagem competitiva e lucratividade, por meio da eficiência global, resposta local e coordenação global de recursos, pessoas e políticas.
Transnacional: caracteriza-se pela centralização de determinadas funções e a descentralização de outras. São adotados critérios de resposta local e integração global. Ficam centralizadas nas funções que geram economias e são descentralizadas as funções que promovem a resposta às demandas locais necessárias. A ideia principal é obter a vantagem competitiva por meio da capacidade de resposta local ao mesmo tempo em que ocorre a transferência de conhecimento, de know-how e economias de custos. A função de pesquisa está centralizada na matriz, assim como outras diversas atividades. Normalmente são alocadas em cada uma das subsidiárias as funções de marketing e serviços, com objetivo de facilitar a resposta local. Madeira e Silveira (2013) sustentam que a grande vantagem deste modelo é proporcionar maior comunicação entre as subsidiárias e maior transferência de competências, o que resulta em maior eficiência entre as unidades envolvidas no negócio.
Nesta aula, vimos que a internacionalização de produtos e serviços tem grande importância no mercado global atual pois permite às empresas oferecerem seus negócios para países diversificados. A dimensão de competitividade é uma das principais razões que levam um país a buscar um mercado internacional. Seja pela qualidade de produtos, preço ou pelas condições de pagamento, a oferta de produtos para um ambiente comercial globalizado leva diversas empresas a oferecerem produtos para compradores que estão distribuídos de forma global. A internacionalização de uma empresa se refere a toda forma de atuação desta empresa no exterior e faz parte de um bloco de estratégias gerenciais, com objetivo de aumentar o envolvimento de uma empresa em operações além-fronteiras geográficas. Os critérios utilizados para determinar o desenho organizacional de uma empresa segundo Madeira e Silveira (2013) eram: Complexidade da organização, Autoridade e tomada de decisão, Avaliação e controle, Recompensas, sanções e incentivos, Comunicação e fluxo de informação, Identificação e Perpetuação. Vimos que empresas internacionalizadas podem ser classificadas em: etnocêntricas, policêntricas ou geocêntricas. Por fim, foram apresentados quatro modelos organizacionais para estas empresas: internacional, multinacional, global e transnacional.
Referências
Bibliográficas
Cavusgil, S. T. (2010). Negócios internacionais: estratégia, gestão e novas realidades. São Paulo: Pearson Prentice Hall.
Culpi, Ludmila Andrzejewski. (2020). Internacionalização de empresas. Curitiba: Contentus.
Clark, Duncan. (2019). Alibaba, a gigante do comércio eletrônico: o império construído por Jack Ma, 1. ed. Rio de Janeiro: BestSeller.
Ludovico, Nelson. Mercados e negócios internacionais, São Paulo: Editora Saraiva.
Madeira, A. B.; Silveira, K. A. G. (2013). Internacionalização de empresas: teorias e aplicações. São paulo. BR: Saint Paul.
Vasconcellos, M. A. S. (2017). Manual de comércio exterior e negócios internacionais. 1. ed. São Paulo: Saraiva.
Business Strategy in the Global Economy - BUS530 - 1.1
Introdução à internacionalização de empresas
Imagens: Shutterstock
Livro de Referência:
Internacionalização de Empresas: Teorias e Aplicações
Adriana Beatriz Madeira, José Augusto Giesbrecht Da Silveira
Saint Paul, 2013